O dia que eu discursei para o Papa João Paulo ||, e mais dois milhões de jovens no campus de Torvergata em Roma, Domingo das Neves

“Santo Padre,
Venho de um país de Africa com um dos mais longos conflitos da época contemporânea. Chamo-me Domingos e, faço parte de uma geração de jovens que, desde que nascemos não conhecemos outra coisa senão a guerra e as suas horríveis consequências: destruição de famílias inteiras, perseguições de pessoas de etnias diferentes, assassinatos de pessoas inocentes, desde os anciãos até às crianças de tenra idade.
Quase todas as famílias pobres do meu país, como a família a que eu pertenço, estão marcadas com os efeitos terríveis da guerra; e quem não perdeu os parentes mais chegados, sofreu o luto de ao menos um dos membros da sua tradicional família alargada.

Nos inícios dos anos '90 perdi os meus pais em condições que só Deus conhece. Ficamos então sob a responsabilidade do nosso irmão primogénito, que, desde algum tempo se dedicava a trabalhos de promoção social nos ambientes rurais. Mas, na manhã do dia 20 de Maio de 1999 chegou a trágica noticia: o meu irmão foi encontrado morto nas margens da estrada principal onde residia, assassinado com seis tiros de arma de fogo. Tinha sido raptado em pleno centro da cidade na tarde do dia anterior.
O sangue do meu irmão se juntou ao sangue de muitas outras vitimas do conflito interno angolano e, ainda hoje se continua a morrer em modos idênticos ou ainda piores.

Para mim foi uma prova muito difícil: um sentimento de ódio e de vingança me invadia o espirito. Mas o tempo me fez compreender que o sangue do meu irmão podia servir como sacrifício para a paz e a reconciliação entre nós angolanos. Como cristão senti que também eu tinha a função de "chamar o povo e os homens à reconciliação e a paz" como Vós, Santo Padre, nos havíeis recordado durante a homilia da Vossa primeira celebração eucarística realizada em Angola, na mesma cidade onde foi assassinado o meu irmão.

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Com esta recordação no coração, perdoei os assassinos do meu irmão, mesmo se não os conhecia pessoalmente. Escrevi então em seu sufrágio as seguintes palavras: "oh Deus, perdoai os seus assassinos; Não considereis mais este pecado. Fazei que o seu sangue juntado ao sangue de muitas outras vitimas de ódio e de vingança, seja a semente para a paz em Angola.
Santo Padre: eu acredito nisso verdadeiramente!"

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Este é o texto do testemunho que fiz diante do Papa João Paulo II e de mais de 2 milhões de jovens provenientes de todo mundo, para participar no Jubileu dos Jovens com o Papa, no campus de Torvergata, em Roma, na noite dia 19 de Agosto do ano 2000.
No dia seguinte (20 agosto 2000), o famoso Jornalista italiano, Igor Man (de feliz memória, falecido em 2009) escreveu no seu editorial no jornal ‘La Stampa’, a comentar o meu testemunho e a fotografia:
“...este abraço (e a conversa entre eles) se parece com o reencontro familiar do avô e o seu neto - ambos com rostos avermelhados pelo sofrimento - porque proveem de países (Polónia e Angola) que conhecem a guerra e os seus terríveis efeitos.”

Saiba mais sobre este assunto, clicando neste link https://www.youtube.com/watch?v=hw4dVHACvPY&feature=share

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