Dom Óscar Lino Braga, o nosso "Desmond Tutu", é um dos mais conhecidos ativistas dos direitos humanos e da paz em Angola. Enquanto figura eclesiástica de proa da Igreja Católica, não mediu esforços para acabar com a sangrenta guerra civil que Angola atravessou. Em finais da década de 80, quando efetuava uma visita pastoral no município da Ganda, a leste da província de Benguela, quase seria raptado por soldados da UNITA, que chegaram a atear fogo na sua viatura. Em 1992, após o eclodir do conflito armado pós-eleitoral, o então bispo da Diocese de Benguela colocou-se defronte dos canhões das forças militares do Governo e das milícias pró-MPLA que tiravam a vida a milhares de angolanos, nos bairros periféricos da cidade, como Massangarala e Quioche. Os alvos dos canhões eram apoiantes de Savimbi e da UNITA. Em algumas ocasiões, o pai da Associação de Escuteiros de Angola (AEA) e da PROMAICA, acrónimo de Promoção da Mulher Angolana na Igreja Católica, foi incompreendido pelos dois lados da contenda. Os "gregos e troianos" não engoliam a ideia de Dom Óscar Braga ter nascido para estar ao serviço dos mais desfavorecidos e da verdade.
Quando Rafael Marques de Morais foi brutalmente encarcerado pelo regime de Eduardo dos Santos, na sequência do artigo "O bâtom da ditadura", publicado em 1999 no extinto semanário Agora, então dirigido por Aguiar dos Santos, Dom Óscar Braga não hesitou e visitou o jornalista na cadeia de Viana, onde condenou a perseguição governamental. Com Dom Óscar Braga estiveram presentes o então presidente da CEAST, Dom Zacarias Camwenho, o agora bispo emérito do Uíge, Dom Francisco Mata Mourisca, e Dom Tirso Blanco, bispo do Luena.
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Das autoridades políticas esperávamos mais do que uma "nota de consternação" pelo passamento físico de uma das mais influentes figuras históricas que este País viu nascer. Um homem que desceu às aldeias e entrou nos palácios. Procurou unir e buscou aproximar as pessoas. Caminhou na linha recta da tradição da Igreja. "Dom Óscar Braga foi um Pastor incomparável no mundo católico africano", dizem os padres mais antigos.
Em 2017, durante a campanha eleitoral, Dom Óscar Braga recebeu, na sua "humilde" residência, a visita do candidato do MPLA, João Lourenço, e da sua esposa, Ana Dias Lourenço. Pousar na fotografia com o "maior pastor" e "símbolo" do catolicismo era uma excelente estratégia de marketing político. Agora, na hora da "PARTIDA", o Presidente da República fez-se representar por Fátima Viegas, a sua secretária para os Assuntos Sociais. Perdeu uma grande oportunidade para demostrar a sua faceta de humanismo. Da Fundação José Eduardo dos Santos e do seu patrono, o ex-Presidente de Angola, agora exilado em Espanha, não se ouviu uma única palavra. Palmas para o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, por sinal católico, que se fez representar de carne e osso. Contentes ficámos ao vermos as imagens da moldura humana, com cristãos e ateus numa homenagem à altura de Dom Óscar Braga. O povo de Benguela retribuiu o mínimo...
Termino estas linhas usando as palavras de Teixeira Cândido Cândido, o representante máximo do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, quando se dirigia ao Presidente Lourenço no encontro que manteve com a sociedade civil: "Nós não gostaríamos de ter apenas como herói Nelson Mandela"...
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