O pior inimigo da língua portuguesa é o professor de português.
É ele quem a torna árida, intragável, uma sucessão de regras e classificações que só interessariam a um doutorando de bisturi em punho, disposto a dissecar – vivo! – o idioma.
Alguma vez lhe fez falta saber se o que você acabou de dizer, ouvir ou escrever era uma oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo? A mim também não.
E, no entanto, é esse vilão – o professor – quem detém o poder de nos fazer amar a língua que é a nossa pátria, mátria, frátria (e há de haver uma palavra bem empoderada derivada de “soror”, que não me ocorre no momento). É ele quem pode mostrar como o idioma se estrutura, de que maneira atuam seus mecanismos, qual a sua história, como molda nosso pensamento, como é parte indissociável da nossa vida.
É aí que entra a gramática.
Ela é o esqueleto do idioma.
Sem ela, não haveria mais que um amontoado de palavras. É ela quem ordena, arquiteta, orquestra. (É ela, inclusive, quem mostra que “arquiteta” e “orquestra”, aqui, não são substantivos, mas verbos.)
É graças à gramática que o idioma salta, dança, alça voo. É ela que o articula, que lhe dá sustentação e plasticidade
Mas ensina-se gramática como se ela fosse uma tábua de mandamentos, acompanhada de uma errata com mil exceções. Da mesma forma como são ensinados números irracionais, inequações e funções logarítmicas para alunos que terminarão o curso sem compreender frações ou saber regra de três. Sem perceber que matemática é lógica, que há matemática na música. Incapazes de entender o que Álvaro de Campos quis dizer com “O binômio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo”.
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Não faltam professores que engessem a gramática, ou a exibam como bicho empalhado, em vez de apontar sua elasticidade de contorcionista chinês, sua elegância de ginasta romena, sua leveza de bailarina russa. De nos lembrar que é preciso conhecer para transgredir. Dominar para reinventar, como fizeram Manuel de Barros, Osman Lins, Lima Barreto, Guimarães Rosa. E nos possibilitou reconhecer como a língua ficou mais rica depois deles.
A geografia já superou a decoreba dos afluentes da margem esquerda do Amazonas; a história, o rosário de datas. O português, entretanto, continua fazendo da análise sintática um bicho papão. Como se a função da gramática fosse colocar a língua no cabresto. Ela vai na garupa – não comanda a rédea. Nos dá régua e compasso, mas letra e música são por nossa conta.
Um professor que inspire nos alunos o tesão pelo idioma – pela maravilha que é o subjuntivo, pela racionalidade das concordâncias, pela sutileza das regências - fará mais pelo aprendizado da gramática do que um que desande a deitar regras.
Todos tivemos um professor que nos fez morrer de tédio nas aulas de português. A alguns de nós coube a dádiva de ter um que nos permitiu descobrir que gramática é muito mais bela que a Vênus de Milo.
Saiba mais sobre este assunto, clicando neste link https://youtu.be/uQcqNNHVbSo
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