O dia que tomei café com o Papa Bento XVI, e depois conversamos mais de 2 horas, artigo de Afonso Ucussapi

CONSERVADOR, PORÉM HOMEM DE TRATO FÁCIL!

Numa Conferência sobre Evangelização&Bioética realizada junto do Ateno Pontificio Regina Apostolorum de Roma, entre 2003/2004, coloquei ao então ultraconservador Cardeal Joseph Ratzinger as seguintes questões:

“1. Para a Igreja o aborto é inadmissível para qualquer que seja o motivo:

a) Qual é a posição da Igreja sobre o aborto em matéria de incesto?

2. Por via de doênças sexualmente transmissíveis, as autoridades sanitárias recomendam o uso de preservativos para se evitarem contágios e mortes:

a) Até quando a Igreja continuará a meter em acto um ensinamento que contrarie este princípio cuja necessidade é fazer com que as pessoas vivam e não continuem a morrer?

b) Até quando a Igreja continuará a pretender que as pessoas recorram ao sexo apenas para procriar, enquanto isto não funciona e sabemos que o recurso a preservativos serve também a evitar a procriação descontrolada e sucessivas  consequências sociais?

Lhe coloco estas questões, porque na qualidade de leigo-estudante de teologia esperam-me muitos desafios a enfrentar perante a sociedade, à qual deverei fornecer respostas concretas”.

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Inteligente que é, e como não deixava de ser, o Cardeal respondeu de forma muito diplomática, em defesa dos princípios da Igreja, e condenando o incesto e todas as causas que levam ao extremo, sem porém satisfazer minha curiosidade.

Dia seguinte pelas 06h30 da manhã, recebo uma chamada Anônima: “ bom dia, é o Senhor Ucuassapi? Sou o Cardeal Ratzinger. Queria convidá-lo a tomar um café juntos, no Bar “x” a Piazza del Risorgimento”. Quêr vir amanhã?” Eu: com prazer Eminência!

Como e onde tinha conseguido o meu contacto é coisa que não imagino, porém me fez um prazer a dobrar saber que se tinha preocupado.

Assim conhecí a partir daquele dia um Ratzinger em vestes terrenas, não só porque compareceu agasalhado de forma tão leiga, sem nenhum outro sinal religioso ao de lá do anel cardinalício, mas porque conversamos, por 2h30, terra-à-terra, abordando vários assuntos. Assim descobri que este homem era uma biblioteca aberta, capaz afinal de sair do seu ultraconservadorismo e vir ao encontro das realidades concretas. Quando foi elevado a Bento XVI fiquei bastante feliz pelo evento. E quando renunciou fui um dos poucos católicos que logo o compreendeu na sua mais soberana escolha, conhecendo a priori o seu pragmatismo no pensamento.

Saiba mais sobre este assunto, clicando neste link https://youtu.be/cFj5p2b6_iY