Manuel Augusto (MA) deve apenas a ele – e a mais ninguém – a ascensão que teve desde que João Lourenço foi escolhido como candidato a Presidente da República. Foi o seu conhecimento dos meandros da diplomacia e a sua habilidade para comunicar que fizeram dele “membro do governo” de João Lourenço quando este nem era sequer presidente.
MA esteve com o candidato do MPLA em todas as viagens que fez ao estrangeiro. E não é por acaso que ele integrava a “bagagem diplomática” do então aspirante à Presidência da República: além de pessoa bem articulada, Manuel Augusto é bem relacionada e convincente a falar.
Manuel Augusto (Nelito para os mais próximos) também deve a ele próprio – e a mais ninguém – a queda abrupta que sofreu há três semanas. A articulação, os contactos e a oratória levaram-no onde sempre quis chegar, mas não foram suficientes para ofuscar os problemas criados por defeitos, erros e excessos. O crónico défice de organização e de disciplina que o persegue há anos sucumbiu ao capital que tinha.
Em março passado, Manuel Augusto incorreu numa vaga de deslizes que deixaram Joao Lourenço sem outra saída. Enviado ao Brasil para fazer a entrega de uma carta ao presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro chegou ao Palácio do Planalto, residência oficial do Presidente do Brasil, sem a missiva.
A ‘bófia” angolana, que rapidamente reportou a fífia de Manuel Augusto ao palácio presidencial, fez constar num informe enviado a Luanda que o chefe da diplomacia angolana teria deixado a carta no hotel onde tinha passado a noite, que não era o mesmo hotel onde oficialmente estava alojado.
Em Espanha, onde se deslocou em visita oficial, Manuel Augusto quase cometeu um penalty diplomático.
O motorista que o servia, um cidadão português residente naquele país há muitos anos, ficou a noite toda à porta de um prédio de apartamentos, onde o ministro tinha passado à noite. Não haveria nada de anormal se em Espanha, como noutro país qualquer, não fosse proibido passar a noite dentro de um carro. Manuel Augusto teria menos problemas, se antenas do Serviço de Inteligência Externa, sempre eles, não tivessem tomado nota do incidente. Se tratando de um carro com matrícula diplomática…
A Segurança Externa também já andava de olho no ex-ministro por causa da alteração de rotas de algumas das suas viagens ao estrangeiro. Uma escala não programada aqui, outra ali…
Feitas as contas, as despesas com as missões ao estrangeiro nos dois últimos anos estavam em 12 milhões de dólares, ou seja, 500 mil dólares por mês.
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A esses incidentes juntaram-se alguns acumulados. “Pendências” que envolveram históricos como Dino Matross e França Ndalu levaram o presidente João Lourenço a concluir que estava diante de um verdadeiro “free lancer”. O incidente com Ndalu foi o mais desconfortável para o PR, o qual se viu numa espécie de acareação. Por essa altura, João Lourenço já sabia que não era verdade que MA tivesse sido seminarista, título que reivindicou diante do Papa na visita oficial ao Vaticano.
Se o que o ministro fazia não era recomendável, o que era feito pelo seu director de Gabinete, Salvador Allende de Bom Jesus, e pelo secretário-geral, Agostinho Van-Dúnem, também não era bom. Investidos de autoridade que diminua os dois secretários de Estado, um os quais Tete António, o novo ministro, os dois perderam-se. Veteranos como Alberto Neto ralavam para falar com ambos.
Vai para uns três quatro meses, uma descoordenação entre Manuel Augusto e os seus imediatos levou o Presidente da República a ter que receber um homólogo seu, quando João Lourenço não fazia planos para tal. Advertido à última da hora que tinha um homólogo a caminho, João Lourenço perguntou: quem o convidou? Contrariado, teve que receber.
Foi também em meio a alguma contrariedade que a primeira dama, Ana Dias Lourenço, foi ao casamento de um filho de Manuel Augusto. O casamento foi celebrado com duas bodas, uma em Luanda e outra que parou em Kigali, no Ruanda.
A noiva, filha de um empresário ruandês residente em Angola, teve como convidada de honra a primeira dama do Ruanda, situação que obrigou Ana Dias Lourenço a estar presente por uma questão de cortesia.
Em todo o caso, o pecado primário de Nelito Augusto foi o regabofe à volta da nomeação da irmã de João Lourenço para cônsul-geral em Nova Iorque. A sugestão de que os EUA teriam rejeitado o visto a Manuel Catraio, seu marido, não procede. Daí resultou um levantamento ao número de “antenas” (filhos, irmãos e outros dependentes) que Manuel Augusto tem espalhadas por várias embaixadas. Mais de uma dúzia!
Enfim, uma explosiva combinação de libidinagem com o “nosso” intrínseco cabritismo, temperada, nos últimos tempos, com alguma petulância, interromperam aquela que tinha tudo para ser uma vitoriosa e duradoura carreira de Manuel Augusto à frente da diplomacia angolana.
Por: Graça Campo
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