Como o encontro entre angolano e moradora do Rio Grande do Sul, terminou com os dois baleados em Gravataí

O encontro de um casal que se conhecia apenas pela internet um angolano que vive em Anápolis (GO) e uma moradora de Cachoeirinha  acabou com os dois feridos a tiros em Gravataí, no dia 17 deste mês, quando o carro de aplicativo em que eles estavam foi interceptado por policiais militares do 17º Batalhão de Polícia Militar (BPM).

O angolano Gilberto Andrade de Casta Almeida e a catarinense Dorildes Laurindo foram baleados. Ele está preso porque os PMs alegaram que ele havia atirado contra a viatura durante a perseguição. Ela está internada em estado gravíssimo, com infecção generalizada. Um dos tiros atingiu a medula e perfurou o intestino da mulher.

Na quarta-feira (27), a advogada Ana Lucia Konrath Alves, que representa os dois, comunicou o caso à Comissão de Direitos Humanos da OAB-RS pedindo que formalizassem denúncia junto à Brigada Militar. O caso é acompanhado por Januário Gonçalves, presidente da Associação Angolana no Estado e representante do Consulado Geral de Angola, que funciona em São Paulo. O titular da Delegacia de Homicídios, delegado Eduardo Limberger do Amaral, concluiu que Gilberto não tinha arma e não revidou à abordagem. Ele encaminhou cópia da conclusão do inquérito ao comando do 17º BPM.
A advogada tenta que a Justiça liberte Gilberto, que tem dois projetis alojados no corpo e está recolhido na Penitenciária Estadual de Canoas. Dorildes, que, além da infecção teve, segundo a advogada, diagnóstico de paraplegia devido ao tiro que lhe atingiu pelas costas, segue internada em Gravataí.

A perseguição começou em Cachoeirinha, onde o veículo dirigido por Luiz Carlos Pail Junior furou um sinal vermelho. Segundo a ocorrência, como estava foragido da Justiça por tentativa de feminicídio, Luiz Carlos não parou o veículo. Pelo contrário, seguiu em fuga, apesar dos apelos do casal. Somente em Gravataí, já sendo perseguidos por policiais daquela cidade, é que o motorista parou. Ele desceu do carro e correu. O casal ficou junto ao veículo e foi baleado — cada um recebeu ao menos três tiros. Luiz Carlos tentou escapar a pé, mas foi capturado.
Gilberto, técnico em radiologia, 26 anos, e Dorildes, costureira, 56 anos, foram encaminhados ao hospital, enquanto os PMs levaram Luiz Carlos para a Delegacia de Pronto Atendimento de Gravataí, com uma arma apreendida. O foragido não quis falar e o delegado plantonista, com base no relato dos policiais militares, fez auto de prisão em flagrante contra ele e contra o angolano por tentativa de homicídio dos PMs.

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Gilberto, que vive no Brasil há cerca de cinco anos, havia conhecido Dorildes pelas redes sociais e os dois mantiveram contato por quatro meses, até que ele decidiu viajar para o Rio Grande do Sul para conhecer pontos turísticos, como Gramado. O primeiro passeio no entanto, foi para Tramandaí, no Litoral Norte, onde mora um irmão de Dorildes. Para a viagem, contrataram Luiz Carlos - que usava CNH com nome falso de Emerson - por meio de aplicativo de viagens. Para retornar para Cachoeirinha, pagaram a viagem particular. A abordagem dos PMs aconteceu na madrugada de 17 de maio.
Nova versão durante investigação
A versão de que o angolano havia atirado contra os PMs começou a ser desmontada pela investigação da Delegacia de Homicídios de Gravataí. Ao serem ouvidos novamente pelo delegado Eduardo Limberger do Amaral, os policiais modificaram a versão anterior. Afirmaram que Luiz Carlos havia atirado ao descer do Palio Weekend. Quanto a Gilberto, não souberam informar se ele realmente empunhava uma arma. Conforme a ocorrência, apenas um revólver foi apreendido no local.
Por meio de conversas registradas nos celulares dos envolvidos, a polícia confirmou a amizade virtual entre Gilberto e Dorildes, as tratativas para ele vir ao Estado passear e também os diálogos para contratação do transporte de Luiz Carlos. Conforme o inquérito, os PMs de Gravataí suspeitavam que havia um foragido no carro, pois as polícias civil e militar da cidade tinham informações sobre o modelo de veículo que Luiz Carlos estava usando ultimamente.

delegado entendeu que ao agir em legítima defesa, por erro de execução, os PMs atingiram terceiros. Mas ressaltou em seu relatório: "Não se pode olvidar, por outro lado, que a conduta dos policiais militares, embora legítima, revestiu-se de certo excesso, pois, apenas um dos ocupantes do veículo abordado, de fato, oferecia risco e imprimiu resistência à ação policial. No local, foi encontrado um revólver calibre 38 com apenas três cartuchos deflagrados, sendo que, em contrapartida, a ofensiva policial, conforme relatos colhidos, resultou em uma sequência de disparos na direção dos três ocupantes".
E mais: "conquanto o elevado estresse de seu manejo e abordagem, deveriam os agentes públicos pautar sua ação com cautela, repelindo a contraposição apenas com a força necessária e proporcional ao risco oferecido".
O delegado concluiu o inquérito dizendo haver indícios de que os PMs — o sargento Marcelo Moreira Machado e os soldados Régis Souza de Moura e Sandro Laureano Fernandes — agiram com imprudência e que os fatos devem ser apurados pela Brigada Militar, já que ocorreram durante serviço. Luiz Carlos além de ter contra si prisão preventiva por tentativa de feminicídio, foi indiciado por tentativa de homicídio contra os PMs.
Contraponto
O que diz o comando do 17º BPM, major Luís Felipe Neves Moreira:
"Assim que soubemos do fato e das lesões gravíssimas em duas pessoas, as armas dos envolvidos foram apreendidas e um Inquérito Policial Militar foi aberto. O inquérito tem prazo de 40 dias prorrogáveis por mais 20. Os três policiais seguem em suas atividades normais."
O comandante informou a GaúchaZH que os três PMs optaram por não se manifestar na reportagem.

Saiba mais sobre este assunto, clicando neste link https://youtu.be/5O5g-Sp_C8k

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