O PAPEL DO CHOCOLATE NA HISTÓRIA DE ANGOLA

No sábado, me deu vontade de comer ou chupar coisas doces. Alguém me sabulou que, quando começa a acontecer isso, é melhor prevenir-se dos diabetes. Entretanto, por estranha coincidência, o meu primeiro neto, o Dr. Kassumuna, que está a «curtir» a quarentena connosco, propõe-me: «Papá, vou à cantina. Não vai mandar bolachas?». Pura telepatia. Digo que sim, tiro a última nota de dois paus, dos quais apenas podia gastar metade, pois o resto era para cobrir o kilapi na Galiana, e lá dou as instruções: «Compra um pacote de bolachas Maria e uns vacas que ri (queijinhos) ou assim». Ele fez melhor: diversificando mais, cafumbou nas vacas e trouxe também uns cubinhos de chocolate num pacotinho prateado duns 2X4 cm, que depositou na geleira. Dos outros mil paus, já não me deu troco nenhum. A Maria saía a quinhentos paus, os queijinhos a cem cada triângulo, ele trouxe dois, pelo que o chocolate terá custado trezentos.

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Normalmente embrulho as marias em xandulas de manteiga, mas nesse dia empurrei umas oito a seco, por estar sem pachorra para esperar até que o creme descongelasse. Não satisfeito apenas com a doçura das bolachas, fui mais buscar o chocolate, a ver se a «semite» fosse finalmente coberta. E é aí que vem o engraçado da coisa. Cada vez que mordiscasse a guloseima, lá vinha o ministro do Interior: «A polícia não está na rua para distribuir rebuçados, nem dar chocolate!». Ri-me a valer por uns bons minutos, pelo menos até os cubinhos acabarem. Era impossível não fazê-lo.

Pouco depois, já mais sério, fiquei a pensar o seguinte: daqui a umas décadas, nas aulas de história, os professores vão certamente lembrar esta frase lapidar de Eugénio Laborinho, quando se estiver a falar do primeiro «estado de emergência» havido no país, nomeadamente do papel que as forças de defesa e segurança desempenharam no combate ao novo corona vírus, o inimigo mais terrível que a humanidade já alguma vez enfrentara. Até Deus tinha medo dele, nem se sabia aonde é que fugira, embora os seus seguidores continuassem a intrujar que ele estava em todo o lado, a protegê-los.
Na altura, embora houvesse apenas 19 casos confirmados, os preparativos do governo faziam prever que a guerra seria dramaticamente terrível, pelo que a repressão preventiva para se evitar a contaminação comunitária tinha de ser muito a sério contra os «desobedientes» e «teimosos» que não quisessem ficar em casa a bem ou a mal, com fome ou sem água, coitados dos kupapatas e dos zungueiros não-essenciais, que então nada mais teriam para tanchar. «A polícia não está na rua para distribuir rebuçados, nem dar chocolate!».

Por: Salas Neto

Saiba mais sobre este assunto, clicando neste link https://youtu.be/8UGZehnoX-w

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