Dom Alexandre do Nascimento disse a Jonas Savimbi, que nenhum homem do sul pode governar Luanda

O rapto do arcebispo de Lubango

Trago aqui este episódio pela sua relevância — quer pelo peso da entidade em causa, quer pela repercussão internacional que o facto mereceu. Na verdade, o que aconteceu com o antigo arcebispo do Lubango não foi planificado pela nossa Direcção política. Como sói dizer-se, foi o homem errado no lugar errado e à hora errada.

O que aconteceu realmente é que o comandante da Frente Cunene, Jeremias Jahulu, planeou o rapto do padre Fernando Guimarães Kevanu, então vigário episcopal da vigararia do Cunene. A vigararia do Cunene pertencia à província eclesiástica do Lubango, do qual era arcebispo D. Alexandre do Nascimento. Este, de tempos e tempos, por força do seu múnus pastoral naquela região, deslocava-se ao Cunene. Foi numa destas circunstâncias que ele foi raptado. Não era a pessoa visada, pelo que o seu rapto foi por mero acaso, segundo uma investigação feita por mim. Havia outras versões, mas esta parece-me mais verosímil, tendo em conta que, ao constatar o erro cometido, o comandante Jahulu teve de recorrer à Direcção do partido para pedir orientações. Foi então decisão do partido, ponderados os perigos que podia correr caso fosse devolvido à procedência, ser mais seguro levá-lo à Jamba e, posteriormente, entregá-lo à Cruz Vermelha Internacional. Assim se procedeu. O arcabispo e o grupo que o escoltava fizeram um percurso pedestre até ao Rio Cuito, onde foi acolhido por uma delegação que o esperava com três viaturas de marca Ipan. Foi então transportado para a base do Likua. Aqui repousou alguns dias, em companhia de Jaka Jamba, antes de seguir para a base central da Jamba.

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Durante a sua estadia no Likua, eu fui visitá-lo para ver se tinha as condições mínimas. Logo que me viu, ficou apavorado, tendo dito que eu estava ali para mandar executá-lo. Pois é, o Puna era o homem mau!... Respondi-lhe prontamente que não o considerávamos prisioneiro, pois a sua presença era uma visita pastoral para os cristãos que se encontravam também daquele lado. E assim foi. Na Jamba, celebrou uma missa num local preparado pelos padres e pelas freiras que estavam connosco. E foi uma celebração bem concorrida.

Para além da eucaristia, teve uma audiência com o presidente Jonas Savimbi, ladeado por mim e pelo general Epalanga. No princípio, a conversa foi cordial, embora o arcebispo tenha levantado uma questão um pouco delicada e que azedou um pouco o ambiente. Queria saber o prelado o que é que a UNITA faria de Luanda se ganhasse a guerra. Terminada a audiência, fomos acompanhá-lo até à viatura que o levou de regresso à zona onde estava hospedado. Savimbi chamou-nos de volta à sua casa e foi directo ao assunto:

— Vocês escutaram bem as palavras do Arcebispo? Isto para mim significa que um homem do Sul não pode governar Luanda. Já viram? Este complexo de superioridade tem de acabar.

*"Mal Me Querem" - Autobiografia de Miguel Maria N'Zau Puna

Saiba mais sobre este assunto, clicando neste link https://youtu.be/hE_5seP1xY8

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