Afinal foi o general Kopelipa e o Miala, que obrigaram o Jorge Valentim a criar uma UNITA renovada em Luanda em 1997

A Renovada: «Quem não tem cão...»

Entretanto, no meio de toda a insegurança, surgira em Luanda, em Setembro de 1997, a UNITA Renovada. Trata-se de uma dissidência, organizada a partir de alguns dos membros da UNITA destacados no governo e no parlamento em Luanda. Jorge Valentim, o ministro do Turismo, era a figura mais marcante deste grupo, embora o secretário-geral fosse Eugénio Manuvacola, o sacrificado signatário de Lusaka.

Valentim, apesar dos modos afáveis, era uma figura pouco simpática, com uma crónica pessoal de excessos, crueldade e violências desde a primeira guerra civil, quando fora o chefe político da UNITA no Lobito. Aí promovera uma intensa campanha contra os brancos; depois, na retirada, constava que mandava matar a sangue-frio vários prisioneiros do MPLA. Mais tarde, caíra em desgraça dentro da UNITA, descendo aos confins da degradação. Mas fora reabilitado e promovido a responsável da Educação. Conheci-o nessas funções, na minha primeira ida à Jamba. Uma vez, em Paris, estando eu com o Sean numa reunião com Savimbi a que Valentim assistia todo de negro vestido, desfez-se em elogios ao ausente quando o Mais Velho saiu ao pé de nós para atender um telefonema: «Vejam que homem admirável»! Que privilégio conhecer e trabalhar com o Dr. Savimbi. A sua paciência, a sua sabedoria, a sua clarividência. Estarmos a seu lado faz-nos diferente!».

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Em Setembro de 1997, quando aterrei em Luanda, estava a sair a UNITA Renovada, com Jorge Valentim muito excitado no seu novo papel de líder, exorcizando Savimbi e a ala belicista savimbista... A situação estava, aliás, complicada. O Abel Chivukuvuku, que não alinhara na Renovada mas que também não coincidia exactamente com o Bailundo, fixara uma espécie de «terceira força» unitista com a maioria do grupo parlamentar. E estava, quando cheguei a Luanda, em residência fixa no seu quarto, no último andar do Hotel Presidente. Mas deixaram-no descer para jantar comigo, na casa de jantar do sexto andar.

Foi também nessa ida a Luanda que o general Ndalu, no seu modo diplomático, me fez encontrar o general Manuel Hélder Vieira Dias "Kopelipa". Fomos jantar a um restaurante logo ali à entrada da Ilha, para quem vem da cidade. Um restaurante «do partido», que estava vazio.

Eram, como disse, os dias da fundação da UNITA Renovada, criação atribuída ao chefe da Segurança de Estado, Fernando Miala. Talvez Kopelipa tivesse tido alguma influência no caso, pelo menos conceptual. Mas a Renovada, independentemente de tudo, parecia uma daquelas ideias inconsequentes de analista ou de comentador político de fim-de-semana das que só servem para convencer os convencidos. Uma vez que Chivukuvuku e os mais destacados dirigentes do grupo parlamentar não alinharam no movimento, este era um «nado morto». O problema do Governo era, exactamente, com a tal UNITA militar, e a existência de uma organização de meia dúzia de quadros sem nome nem prestígio, considerados desde logo vendidos à Luanda, não alterava em nada a realidade. Ou melhor, contribuía apenas para acirrar ainda mais os ânimos. Por isso, nesse jantar com Kopelipa e Ndalu, ao falar-se do tema — quentíssimo na capital— eu dei a minha opinião, claramente e sem estar com grandes cuidados ou respeitos humanos. Vi alguma irritação em Kopelipa, mas insisti, e Kopelipa, já mais alterado, atacou o meu ponto de vista. Argumentámos e, com algum embaraço do general Ndalu, o tom de voz e a linguagem começaram a escalar. E Kopelipa, com quem no início do jantar eu trocara cumprimentos do tipo «adversários que se conhecem e respeitam intelectualmente», foi dizendo: «Pelo que vejo, o Senhor, afinal, não percebe bem este país... Não percebe a sociedade nem a política angolana...» Eu ia-o contrariando no mesmo tom, dizendo que ele navegava num wishful thinking ao acreditar que a Renovada ia fazer alguma diferença, sobretudo com o elenco com se apresentava. Até que, já mais irritado, Kopelipa me atirou com qualquer coisa do género:

«A sua análise é completamente superficial!» E eu, ainda mais alto e já no limite: «Isso é que não, General! Não me diga que sou superficial! Se por alguma coisa me prejudiquei ao longo da vida foi exactamente por não ser superficial, tão pouco superficial que às vezes certas pessoas não me percebem...»

Perante a tensão dos meus interlocutores com a minha veemência, dei a volta e, quase a rir, concluí:

«Bom, mas quanto à UNITA Renovada há mais coisa em que vos compreendo... Como nós dizemos na nossa terra, quem não tem cão, caça com gato!»

O general Ndalu concordou, Kopelipa riu e a conversa seguiu. Mas o fait divers da Renovada, de facto, de pouco serviu; num país dividido, em pré-guerra civil, uma dissidência claramente criada por uma das partes para perturbar a contrária, sem base popular de apoio, nunca serviria para nada. Razão tivera o general Nunda quando, depois de ter que fugir para Luanda, fora convidado a formar «outra UNITA» pelos dirigentes do MPLA — Higino Carneiro e o próprio Kopelipa:

«Não há nem UNITA 1, nem UNITA 2, nem UNITA 3 com possibilidades de fazerem alguma coisa contra a UNITA do Dr. Savimbi», dissera Nunda, «é uma ilusão que possa haver uma UNITA capaz de vingar contra a UNITA do Dr. Savimbi!»

Ainda nessa visita a Luanda cruzei-me com Valentim, rodeado de seguranças, no 6.° andar do Presidente: «Dr. Nogueira Pinto! Gostava depois de falar consigo!» «Dr. Valentim, depois do fim da Guerra Fria, falo com toda gente!».

*"Jogos Africanos", autoria de Jaime Nogueira Pinto.

Saiba mais sobre este assunto, clicando neste link https://youtu.be/1tX37ZSIzcA

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