Pular para o conteúdo principal

Postagem em destaque

1.° De Agosto em risco de descer de divisão por dívidas

General Nunda era o único que discordava com algumas opiniões de Jonas Savimbi, e aconselhava o mais velho na frente de todo mundo

Um dissidente muito especial

Ainda sob o efeito dos acontecimentos de Luanda e de outras cidades onde as suas representações tinham sido eliminadas e seus militantes mortos ou expulsos, a UNITA reagiu no terreno. E fê-lo principalmente no Norte e Noroeste do país: a 4 de Novembro ocupou o Caxito, capital da província do Bengo e depois N'dalatando (ex-Salazar), a capital do Cuanza Norte; e nas semanas seguintes foi ocupando a maioria dos municípios das províncias do Zaire, de Malange e das Lundas. No princípio de Janeiro de 1993 dominava 105 dos 164 municípios de Angola.

Depois das «limpezas» urbanas, o Governo estava na defensiva. Nem podia fazer outra coisa. As forças da polícia antimotim e os seus Fitinhas armados serviam para a luta e para a intimidação urbana, mas não para a verdadeira guerra.

Fisioterapia ao domicílio com a doctora Odeth Muenho, liga agora e faça o seu agendamento, 923593879 ou 923328762

Ao mesmo tempo mantinha-se uma ambiguidade de nem guerra nem paz, ou de paz e guerra simultâneas, como iria ser regra em Angola nesta terceira guerra civil. Sem parar os combates, as partes em conflito falavam e procuravam — pelo menos oficialmente — reatar o diálogo. Fizeram-no dentro de Angola, no Namibe (ex-Moçâmedes) ainda em 1992. E depois fora do país, em Abidjan e Adis-Abeba.

Mas não havia lugar a muitas ilusões: a guerra voltara mesmo. No Huambo, na sua outra «Casa Branca», Savimbi, recém-chegado de Luanda depois das eleições, convocara os elementos da Direcção. Entre eles está o general Nunda.

Geraldo Sachipengo Nunda era um dos comandantes mais prestigiado da UNITA. Natural de Nhareia, província do Bié, tinha, em 1992, 40 anos, e era ainda, por linha materna, da família de Savimbi. Fora cedo chefe das operações e comandante da Frente Sul e depois da Frente Centro. Um soldado intelectual, um homem culto, inteligente, tranquilamente corajoso. Com uma cultura de dizer a verdade, de dizer o que pensava, Nunda era um produto raro nas paragens. Escrevera uma carta nos anos 80 muito crítica de certos aspectos político-militares do movimento e fora o único membro do Bureau Político da UNITA a opor-se à «solução final» do problema das «bruxas»:

«Eu na altura disse a Savimbi: 'Não, Mais Velho, eu não acredito nisso! Primeiro, a formação que eu tenho, dos meus pais, aquilo que eu leio, aquilo que eu sei da vida, eu não acredito que haja ali alguma coisa em que essas senhoras possam influenciar a luta. Então eu não estou de acordo'. E o Mais Velho avança: 'Então, quem não está de acordo, levanta o braço!' E eu levantei. 'Está a colocar-se mal! De entre tantos Mais Velhos você é o único que não está de acordo?! Está a colocar-se mal!...'»

Por essa franqueza Nunda passara maus bocados, mas o Mais Velho, no fundo, apreciava-o e respeitava-o. Não eram muitos os que discordava dele frontalmente.



Nunda achava que Savimbi, depois das eleições, seguira uma estratégia que lhe podia sair muito cara: sair de Luanda. Porque até ali quem de importante viesse falar com José Eduardo dos Santos falava também com Savimbi. Agora isso deixa de ser possível. Rebate Savimbi: «Mas eles queriam matar-me!» E Nunda: «Mais Velho, não há assim essa certeza de que o queriam matar!»

Nunda discute outras decisões de Savimbi. Argumenta com o chefe, procura moderá-lo. Mas às vezes opõe-se abertamente ao Mais Velho. Quando o pessoal da UNITA ataca no Huambo posições das FAPLA, diz-lhe:

«Mais Velho, se nós, aqui no Huambo, Benguela e Bié, se nós atacarmos uma posição aqui, se atacarmos aqui os municípios, então também a guerra em Luanda vai começar».

«E pode começar! », desafia Savimbi.

«Antigamente nós tínhamos o apoio dos sul-africanos e dos americanos, mas agora já não vamos ter. Como é que nós vamos conduzir a guerra?»
«Nós vamos encontrar maneira...»

Entretanto, Savimbi mandara chamar de Luanda — tudo isto em Outubro, antes dos dias fatídicos da capital— Ben-Ben, Gato, Numa e outros. Estes passam pelo Cuango, onde o general Chimuko tinha atacado e ocupado uma mina de diamantes. E chegam ao Huambo com um punhado de pedras preciosas.
      Aí, Savimbi diz a Nunda:

«Ó Nunda, aquilo que você disse que não tínhamos possibilidades, agora já temos. Temos diamantes para fazer a guerra!»

«Temos diamantes Mais Velho, mas enquanto nós vamos tirar 10 milhões de dólares por mês, os outros vão tirar 40! Vão tirar o quádruplo.»

«Ah! Nunda, você agora também está cheio de histórias, cheio de teorias...»


*"Jogos Africanos", de Jaime Nogueira Pinto.

Saiba mais sobre este assunto, clicando neste link https://youtu.be/m9RnpoJEOJY

Comentários