Unita reduziu os feitos de Savimbi quando colocou bandeira do partido por cima da sua urna, Savimbi merecia bandeira de Angola na urna, disse Carlos Alberto

Por: Carlos Alberto (Cidadão e Jornalista)

Paulo Gamba, um dos juristas mais lúcidos, competente, e que mais mostram patriotismo acima de interesses político-partidários que eu conheço, fez uma grande observação, no seu facebook, sobre a bandeira que cobriu a urna dos restos mortais do líder-fundador da UNITA Jonas Savimbi no velório e funeral: a da UNITA. Eu sou dos que não têm vergonha de elogiar as boas observações dos outros. Reconhecer a capacidade dos outros só é possível em cérebros de pessoas que pensam plural acima de interesses pessoais. Acrescento, na mesma linha de raciocínio do Paulo Gamba, que Savimbi, apesar de ter sido fundador da UNITA, não morreu em combate pelo partido UNITA. Morreu em combate porque pretendia ver uma Angola melhor para todos os angolanos. Reduzir Savimbi à UNITA é não ter, segundo o meu ponto de vista, a real percepção da dimensão da figura de Jonas Malheiro Savimbi. Jonas Savimbi morreu por Angola. Não morreu pela UNITA. Aliás, a sua luta não começou contra os seus próprios compatriotas. A sua luta começou na altura em que Angola tinha sido "raptada" pelos portugueses. O desfecho da proclamação da Independência de Angola é que separou os filhos da mesma pátria. Se o desfecho tivesse sido outro, se tivesse havido entendimento entre os três movimentos que libertaram Angola, FNLA, MPLA e UNITA, nunca teria havido guerra civil em Angola. O 11 de Novembro de 1975 foi decisivo para que filhos da mesma pátria se matassem mutuamente. Não foi pretensão de Savimbi que a UNITA fosse poder a qualquer custo. Pelo contrário, ele até negou o cargo de vice-presidente da República que lhe estavam a "oferecer" em 1992, pois entendia que tinha ganho as eleições, que estava a ser injustiçado e que sendo vice-presidente não traduzia a vontade do soberano. Por outro lado, Savimbi terá entendido que o cargo de vice-presidente seria uma mera figura decorativa que não lhe permitiria acabar com os vários vícios de governação a que se assistia na altura e que ainda se assiste até hoje, 1 de Junho de 2019, que foi enterrado formalmente. Muitos angolanos que não são militantes da UNITA (eu sou um deles) vêem em Jonas Savimbi um patriota e não um mero militante da UNITA, pois lutou para defender interesses da maior parte dos angolanos. Há cidadãos angolanos que podem estar a votar na UNITA, nas eleições, não pelo nome do partido mas pelos feitos de Jonas Savimbi. São dimensões diferentes que tinham de ser alcançadas pelos organizadores do funeral de Jonas Savimbi. Não se devia politizar "o fim de Savimbi". É o facto de Savimbi ter lutado até ao fim pelo que ele acreditava - mesmo que alguns considerem não ter sido a melhor via - que o torna "o primeiro patriota". Savimbi pode ser interpretado como rebelde para muitos, e cometeu de facto muitos erros, mas é unânime na cabeça de "cidadãos normais" que ele lutou para que Angola fosse governada de outra forma. Lutou para que hoje não estivéssemos a viver no abismo em que nos encontramos, sem esperança nenhuma de um futuro melhor. É um ponto assente, independentemente dos seus erros. Foi coerente na sua luta por Angola até ao fim. Portanto, é a UNITA (actual) que reduz os seus feitos, colocando a bandeira do partido sobre a sua urna em vez da bandeira de Angola.

Carlos Alberto
01.06.2019

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