Não vejo diferença entre a aldeia Camela Amões no Huambo e as aldeias da Inglaterra ou Estados Unidos, crônica de Sousa Jamba



Um colunista deve ser altamente curioso. Quando, lá nas montanhas do Planalto Central, ouvi que haveria, em Luanda, uma conferência sobre o futuro da indústria petrolífera, fiz tudo para vir para a capital. Com o meu sobrinho Carlos ao volante, passamos pelo o Alto Hama, onde notei que estava tudo escuro, porque não havia iluminação pública. Passamos por Quibala; também tudo estava escuro. Lissussu também estava bem escuro. A única localidade com luz era o Dondo.



Na aldeia Camela Amões, lavo os dentes com a água da torneira sem ter que pensar — como se estivesse na Europa ou Estados Unidos. Descansei um pouco e depois mandei vir alguém que me levou de motocicleta da Vila Alice ao Talatona, onde a conferência estava a ser realizada. A poluição pelo caminho era quase insuportável.
Eu não tinha saído da Austrália (que tem meios urbanos com níveis baixíssimos de poluição) ou da Finlândia (um dos países que é considerado como tendo o meio ambiente mais benigno do mundo). Eu tinha saído de uma localidade no Planalto Central, a aldeia Camela Amões, onde resido há quase um ano, que está muito próximo de países Ocidentais, onde passei quase toda a minha vida — o Reino Unido e os Estados Unidos.
Nos quase vinte anos que vivi no Reino Unido, principalmente em Londres, a luz só falhou uma vez por menos de um minuto; aquilo foi um grande escândalo. Na Aldeia Camela Amões, temos luz vinte quatro sobre vinte quatro horas.
Recentemente, na aldeia Camela Amões, eu estava a conversar, através do messenger do Facebook, com um amigo brasileiro, o conceituado cantor mineiro Sérgio Pereira, mais conhecido por Perere. Estávamos a falar sobre as origens das suas canções e sobre um outro músico que ambos admiramos, o Maurício Tizumba.
Lembrei-me que uma vez tentei ter uma mesma conversa com o “Perere” a partir de Luanda, mas não dava por causa do barulho a vir de centenas e centenas de geradores perto de mim. Na aldeia Camela Amões usa-se energia solar.
Da Camela Amões, eu até fiz uma descrição ao “Perere” da noite escuríssima, com as estrelas brilhantes lá no céu, e a sinfonia dos insectos e pássaros nas pequenas matas. A aldeia Camela Amões é uma fusão destra de casas modernas e um meio ambiente bucólico e muito natural.
Além de ser jornalista, só tive um outro emprego não ligado completamente à escrita — Professor de Língua Inglesa numa escola secundária na Escócia. Devia ter na altura vinte e três anos. Eu vivia numa pequena casa perto de um cemitério e do mar; a aldeia chama-se Kirkurbright. As pessoas achavam-me um pouco esquisito: o jovem negro que vivia sozinho e que não frequentava o bar da aldeia, mas preferia passear à beira-mar ou ir de cavalo para a floresta.
Na minha casa, naquela aldeia escocesa, o lixo ia para uma lata e era recolhido na quinta-feira. Na aldeia Camela Amões, todos os sábados aparece um tractor com vários homens para recolherem o lixo. Isto faz com que não haja os montes de lixo que se vêem nas áreas menos favorecidas de certos centros urbanos como Luanda; há muitas doenças que afectam as comunidades só por estarem num meio ambiente insalubre.
Periodicamente, as autoridades da aldeia vinham para inspeccionar a qualidade da minha casa — assim como da água. Lembro-me que no meio de um inverno severo, com neve por todo o lado, as autoridades vinham para a minha casa para garantir que eu tinha blocos de combustível de turfa adequados, para aquecer a casa de campo em que eu vivia.
As autoridades tinham o dever de garantir que os habitantes da aldeia de Kirkurbright tinham direito à água potável, bom abrigo, ar saudável, etc. O mesmo espírito impera na aldeia Camela Amões.
Alguns meses atrás, tive uma visita, um médico escocês baseado na Namíbia, que me disse que a aldeia Camela Amões tinha muito em comum com as aldeias na Escócia. Até falamos que, pelo facto de a Escócia ter aldeias tão atraentes, muitas pessoas preferiam instalar-se lá em vez de viver em grandes centros urbanos como Londres, Edimburgo ou Liverpool. Lá estamos: uma aldeia no interior de Angola a ser comparada a uma aldeia numa das áreas mais desenvolvidas da Europa.
Alguns meses atrás, na aldeia Camela Amões, tivemos médicos vindos do Egpito, país que também tem problemas ambientais por causa do aumento da população. Eu fiz o papel de tradutor — de Inglês para o Umbundu.
Os médicos notaram que havia certas doenças intestinais que eram típicas de crianças e adultos vindos de certas aldeias e não dos habitantes da aldeia Camela Amões. A razão era que muitas dessas pessoas não viviam num meio ambiente semelhante ao da aldeia Camela Amões, onde mesmo a questão do escoamento da água durante a chuva tinha sido muito bem pensada.
Vou ter já de regressar para a nossa aldeia, não só porque me sinto tão bem lá, mas porque vou ter que receber várias visitas que querem aprender sobre o projecto do empresário — o nosso Mano Segunda Amões. Imaginem só o que seria Angola se houvesse várias aldeias iguais à aldeia Camela Amões!
Tenho viajado pelo interior de Angola, onde tenho visto muitas aldeias com muita pobreza e falta de esperança. Quando conheci a aldeia Camela Amões, há quase vinte anos, o caso era o mesmo. Em menos de cinco anos, o empresário Segunda Amões transformou aquilo numa aldeia exemplar no nosso continente… (Jornal de Angola)

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