Pular para o conteúdo principal

Postagem em destaque

1.° De Agosto em risco de descer de divisão por dívidas

Governo angolano paga dois milhões de dólares a um lobista americano para promover imagem de João Lourenço na América e ganhar confiança no governo de Trump


Promover a imagem de Angola e do PR João Lourenço junto dos “media” dos EUA é a finalidade de um contrato firmado em Maio, em Washington, por elementos do Governo e da Presidência, com Robert Cabelli (RC), ex-funcionário do Departamento de Estado e actual “lobista”.

O acordo foi concluído em Washington por uma delegação angolana composta por João de Melo, ministro da Comunicação Social, e por Victor Lima, secretário da Presidência para os Assuntos Diplomáticos. A mesma incluiu ainda Luís Fernando, porta-voz da Presidência, e elementos de “staff”.

O contrato prevê o pagamento a RC de um montante de USD 2 milhões, sendo a primeira tranche paga de imediato.

Entre os serviços a prestar por RC estão a inclusão de JL entre os convidados do Global Business Forum (GBF), organizado pela Bloomberg, este ano a ter lugar a 25 de Setembro em Nova Iorque (EUA), e que na sua última edição contou com a participação de Isabel dos Santos.

Em 2018, JL teve oportunidade de participar no GBF, mas optou por não estar presente, preferindo o Fórum Empresarial Angola-EUA, à margem da sua participação no debate anual da Assembleia Geral da ONU. O evento, em que JL apelou ao investimento de empresas dos EUA em projectos concretos, nomeadamente na área das infraestruturas, ficou marcado por deficiente organização e por uma incómoda intervenção de um empresário norte-americano presente, fortemente crítica das condições para o investimento em Angola (AM 1168).

Outra das incumbências de CR, à luz do contrato, é o agendamento de entrevistas de JL a meios de comunicação social de referência nos EUA (Wall Street Journal, New York Times, outros).

Não obstante os esforços por parte da administração de JL, os investidores e homens de negócios norte-americanos têm vindo a revelar escassa atracção pelo mercado angolano. A evidência desfeiteou expectativas das novas autoridades angolanas. O programa de reformas económicas e políticas em curso no país tenderia, no entendimento das autoridades, a melhorar o ambiente de negócios e, por via disso, a encorajar o investimento dos EUA (AM 1195).

Paralelamente, têm sido goradas abordagens por parte da Presidência para realização de uma visita oficial de JL aos EUA – dificultada pela pouca relevância que os assuntos africanos assumiram com a administração de Donald J. Trump (AM 1158).

Os esforços de captação de investimento têm também sido penalizados por processos judiciais em curso contra Angola, envolvendo empresas dos EUA, sendo o da African Growth Corporation (AGC) aquele que assume maior expressão mediática. O incómodo da Presidência face a notícias postas a circular pela AGC acerca de negociações com o Governo tendo em vista uma solução amigável da disputa levaram a uma reacção oficial em Mai., pelo ministro da Justiça, Francisco Queiroz.

Também frustrada, e apesar do apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI) e disponibilidade do Departamento do Tesouro para apoiar a montagem de um novo sistema de controlo financeiro (AM 1189), tem sido a pretensão de reposição de relações de correspondência com a banca internacional, num contexto de dificuldades financeiras na banca (AM 1197), identificadas como um dos principais constrangimentos ao crescimento económico.

A contratação de RC causou estranheza em meios diplomáticos em Washington, nomeadamente por não lhe ser reconhecida actualmente capacidade de influência em meios políticos e/ou nos “media” – pelo contrário, é suspeito de ter participado em violações ao regime de sanções ao Sudão do Sul.

A escolha de RC é também estranhada em círculos políticos e diplomáticos por se considerar desnecessária a sua intervenção junto dos “media”, dado que a projecção de JL é suficiente para assegurar a sua participação nos referidos eventos/ entrevistas.

Através da firma CR International, RC foi um dos principais lobistas nos EUA contratados pelo regime de José Eduardo dos Santos (JES) até início da década de 2000. O contrato com a CR International era o mais antigo e o mais oneroso (USD 1,2 milhões/ano), e RC passava longas temporadas em Luanda, o que terá aproveitado para constituir um importante círculo de relações ao nível do MPLA.

O contrato de Angola com a CR International foi rescindido em 2005, juntamente com o mantido com outras empresas de “lobby”, caso da Cohen & Woods International, esta do antigo subsecretário para os assuntos africanos, Herman Cohen, e da Samuels International.

Para a rescisão, foi determinante a percepção de perda de influência política das respectivas firmas, a par da menor delicadeza que o tema de Angola foi adquirindo nos EUA, com as relações bilaterais a entrarem num quadro de normalidade. Paralelamente, o sector petrolífero norte-americano, revelou disponibilidade e capacidade para mover influências políticas e diplomáticas que lhe foram sendo pedidas, quando necessário.

A fase que antecedeu o fim do contrato com a CR International foi marcada por discrepâncias entre a embaixadora nos EUA, Josefina Pitra Diakité e o chefe da Casa Militar do PR, Gen Hélder Vieira Dias “Kopelipa”. A embaixadora recomendava o fim do contrato alegando que RC não só perdera influências como vinha despertando animosidades em certos círculos, devido ao seu carácter irascível. “Kopelipa”, com quem RC tinha contactos estreitos, defendia a continuação do contrato.

A CR International teve nos países africanos um dos seus principais mercados, incluindo entre os seus clientes os Governos da Guiné Equatorial e também de São de Tomé e Príncipe.

Comentários