Angola só será um país inclusivo e de todos angolano, se nós baseamos no modelo de governação da Unita e do MPLA utilizada no tempo de guerra, diz Marcolino Moco

O antigo primeiro ministro sugere um modelo de governação em Angola, baseado no que foi usado pelas chefias militares do MPLA e Unita, no tempo de guerra. Em livro, Marcolino Moco analisa a génese dos conflitos em África.
O antigo primeiro-ministro de Angola e primeiro secretário-geral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Marcolino Moco, defendeu que a principal razão dos conflitos em África resulta da forma como os países copiaram a estrutura das antigas metrópoles e que “não correspondem à verdadeira realidade africana, em que os Estados são compostos por populações que ainda não estavam totalmente integradas numa nação”. O político lembra que “há uma pluralidade de etnias e de regiões com interesses próprios, mas os Estados são essencialmente centralizados”. De acordo com Marcolino Moco, os Estados africanos deviam explorar a realidade antropológica e sociológica do continente para “contribuir” para o fim dos conflitos. As ideias de Marcolino Moco estão espelhadas no livro ‘Angola, Estado-Nação ou Estado-Etnias Política’, apresentado esta semana em Luanda.
No caso angolano, o advogado lembra que, antes da independência, existiam três movimentos com características diferentes: um marcadamente bakongo, a FNLA, um kimbundo e mestiço, o MPLA, o outro ovimbundo do interior, a Unita. Uma realidade que se devia seguir no Estado pós-independência,“mas preferiram escolher a via da realização de eleições para que quem as vencesse formasse governo”, lamenta. O advogado, entretanto, estranha como os partidos deixaram que esta situação que mais “desune” os angolanos acontecesse, em que um partido menos tradicionalista e bantu, mesmo fazendo parte de uma etnia, formasse governo. O estudioso aconselha a que “não se durma à ‘sombra da bananeira’ para que se evitem situações que levaram à guerra”.
Segundo o causídico, a criação de Angola com o lema “um só povo, uma só nação” faz dela uma nação “aparentemente unida, com uma sincronia étnica”, situação vista de duas maneiras, a positiva, por unir os angolanos e, por outro, a negativa, por destruir a riqueza cultural”. Na apresentação do livro, o historiador português Alberto Santos considera que os Estados modernos tendem a ser Estados-Nação, mas Angola é um Estado com “características particulares, iguais a todas as antigas colónias africanas, que promove uma imagem de conflitos e se não for as guerras, há os problemas das rebeliões”. Segundo o historiador, há quem “não se sinta inserido em todos os processos”. Para Angola, o especialista sugere a existência de Estado em que as pessoas se sintam “integradas”.

Redefinição da nação

No livro, Marcolino Moco procura explicar a razão para a génese dos conflitos nos países africanos, fundamentados pelas “linhas” das fronteiras traçadas pelas antigas colónias. De acordo com ele, “se os africanos pudessem desenhar fronteiras baseadas nos grupos étnicos ou em regiões étnicas muitos dos conflitos que se verificam em África não existiriam”.
No caso de Angola, sugere o modelo seguido pelas chefias militares do MPLA e da Unita, durante o conflito, que dividiram o país em regiões militares, de acordo as características étnicas ou linguísticas. “Seguindo este modelo na governação, teríamos um país equilibrado e inclusivo”.
O livro, em duas línguas, português e inglês, foi lançado pela primeira vez em Portugal, em 2015. Marcolino Moco é actual administrador não-executivo da Sonangol, já foi primeiro ministro de Angola, entre 1992 e 1996, e secretário-executivo da CPLP de 1996 a 2000, é autor de vários livros. NG

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