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1.° De Agosto em risco de descer de divisão por dívidas

João Lourenço não mudou nada de novo na economia de Angola



Já passaram seis meses desde que João Lourenço tomou posse como presidente da República. Obviamente, o novo presidente surpreendeu pelas suas iniciativas, designadamente o que se pode chamar “exonerações & arguidos”.
Todavia, o seu principal apelo de fundo durante a campanha eleitoral era o do desenvolvimento económico. O “milagre económico”, equivalente ao de Deng Xiaoping na China.
Hoje, não restam dúvidas de que a economia angolana, quando cresceu, não produziu riqueza, apenas valores para serem saqueados por uma oligarquia rapace. Entretanto, o crescimento desacelerou, atingindo níveis insignificantes.
É tempo de Angola ter uma economia próspera que garanta uma oportunidade a todos os cidadãos. É esse o grande desafio de João Lourenço, além de efectivamente instaurar o Estado de direito e terminar com a corrupção dos dirigentes políticos.
E é na área da economia que não se vê um propósito reformista intenso, nem se percebe o que aconteceu de fundamental nestes seis meses. É necessário um programa económico arrojado que mobilize a população, e não um conjunto enorme de papéis e documentos que mais confunde do que esclarece.
O primeiro facto económico a registar nestes seis meses é a subida do preço do petróleo. Em 22 de Setembro de 2017, o preço por barril Brent estava em $56,86. Actualmente, oscila entre os $67,00 e os $70,00. Logo, teve uma valorização superior a $10,00 em seis meses, correspondente a cerca de 18% de aumento. Naturalmente, este acréscimo é uma boa notícia para a economia angolana.
A gestão de João Lourenço tem mais dinheiro, embora o efeito não seja directo, devido aos contratos de futuros e de preço fixo que existem na área do petróleo. Como quer que seja, existe mais dinheiro, e a pergunta que fica é: onde está a ser aplicado o dinheiro novo? Na saúde, na educação, nas infra-estruturas?
Lembremo-nos de que o primeiro orçamento de João Lourenço foi muito criticado pela macrocefalia presidencial, isto é, pelo excesso de percentagem de fundos que cabia à Presidência da República, em detrimento da educação e da saúde, sectores onde Angola se arrasta miseravelmente. Tem havido alguns anúncios esporádicos, mas não se vê um plano concreto para gerir melhor e mais eficientemente esta mais-valia trazida pela subida do preço do petróleo.
O segundo facto económico é a desvalorização do kwanza. É um facto que o kwanza desvalorizou mais de 30% desde Janeiro de 2018. É também um facto que as reservas financeiras angolanas estão em baixa. Isto quer dizer que podem ser necessárias mais medidas administrativas de protecção à moeda, como as já tomadas quando a moeda começou a desvalorizar-se, descontroladamente, no início do ano e que obrigaram o banco central a controlar drasticamente as margens de flutuação da moeda e a não aceitar transacções abaixo dessas margens.
Esta desvalorização devia ter tornado as exportações angolanas mais competitivas e as importações mais difíceis, diminuindo também o mercado negro da moeda. Pergunta-se: as exportações aumentaram (retirando o petróleo) e as importações diminuíram nos últimos meses? O mercado negro diminuiu?
Para já fica a questão, uma vez que não dispomos de dados referentes a 2018, época posterior à desvalorização.
A outra face da desvalorização pode ser a inflação. A última referência do Instituto Nacional de Estatística referente a Fevereiro de 2018 revela que o “o Índice de Preços Grossista (IPG) registou uma variação mensal, no período de Janeiro 2018 a Fevereiro de 2018, de 1,26%, cerca de 0,03 pontos percentuais superior à registada no período anterior”. (http://www.ine.gov.ao/xportal/xmain…). Contudo, a mesma informação também revela que o valor de Fevereiro de 2018 é 13,28 pontos percentuais mais baixo do que no mês homólogo (i.e. Fevereiro de 2017). A mesma contenção e oscilação é verificada no índice de preços ao consumidor “, o Índice de Preços no Consumidor (IPC) registou uma variação 1,12% durante o período de Janeiro 2018 a Fevereiro de 2018” (http://www.ine.gov.ao/xportal/xmain…)
Parece assim que a inflação não disparou, como se admitia que acontecesse, e mantém-se oscilante. Todavia, uma reportagem publicada no Correio Angolense (https://www.correioangolense.com/…/vida-cada-vez-mais-dific…) apresenta uma realidade diferente. Escreve-se nesse jornal: “Numa ronda efectuada nalguns mercados informais e hipermercados, este jornal apurou, de vendedoras e agentes económicos, que os preços da cesta básica sofreram uma significativa alteração na sua tabela habitual.”
A nossa opinião é que estamos numa fase de transição e absorção pelos agentes económicos, que ainda teriam stocks disponíveis, da desvalorização, e que o aumento dos preços se tornará mais visível paulatinamente. Portanto, a inflação será um problema que se manterá e aumentará.
O terceiro facto diz respeito ao crescimento económico propriamente dito. As previsões do governo que apontavam para um crescimento rápido de 4,9% já estão a ser revistas. Neste momento, o melhor que o governo augura será de 2,4%, enquanto as organizações internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, situam as suas expectativas entre os 2,2% e os 1,6%. (http://expansao.co.ao/…/governo-prepara-revisao-em-baixa-do…) .
As previsões valem o que valem, e geralmente erram mais do que acertam. A sua importância é que apontam tendências. E a tendência que apontam para Angola é de quase estagnação. Obviamente, e voltamos ao primeiro facto, muito depende da evolução do preço do petróleo... a dita diversificação acabou por não acontecer.
Parece claro destes factos que a economia angolana e o famoso “milagre” prometido por João Lourenço não estão a acontecer. Em boa verdade, são precisas duas mudanças na gestão económica do país.
A primeira mudança é da equipa económica. Os presentes ministros e dirigentes económicos são “os mesmos de sempre”, por isso, podem ter experiência, mas não têm inovação, rasgo, espírito empreendedor para fazer mexer a economia. Lourenço tem de substituir os ministros da área económica por uma nova geração mais tecnocrática e prática, disposta a derrubar tabus e “vacas sagradas”, abrir a economia e criar competição.
A segunda mudança é de programa económico. O que agora existe é uma trapalhice. Há que criar um novo programa económico, simples, claro, a que todos adiram e que seja efectivamente reformista.
É este o desafio de João Lourenço na economia. Sem mudança, não há milagre.

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