Ao abrigo da lei da imprensa de Angola, pedimos-lhe que publique na
íntegra o presente direito de resposta. Lemos com interesse o seu
editorial do passado dia 19 de novembro. Por se tratar de um artigo
publicado no Jornal de Angola, um órgão oficial de comunicação pública,
parece-nos fundamental que as opiniões expressas nos seus editoriais
sejam baseadas em factos verdadeiros e comprovados e que respeitem
escrupulosamente as melhores práticas jornalísticas e à lei da imprensa,
de acordo com a qual os cidadãos não devem ser difamados ou insultados.
Fonte: Isabel dos Santos
1. A sua afirmação de que o meu estatuto de “filha de um chefe de
estado” teria sido uma desvantagem, para garantir o financiamento
necessário para a reestruturação da Sonangol, é contrariada por factos
facilmente verificáveis. De destacar que trabalhei ao longo da minha
carreira profissional (20 anos) com esse estatuto, sendo que o mesmo
nunca me impediu de desenvolver relacionamentos bancários com as
principais instituições financeiras internacionais.
Foi, aliás,
durante a vigência do Conselho de Administração que liderei, que a
Sonangol conseguiu finalmente estabelecer ligações bancários e ter
contas abertas nos EUA (Estados Unidos de América)– situação que não
havia sido possível durante muitos anos.
Em Dezembro de 2016 a
Sonangol lançou um concurso internacional para depósito de fundos em que
participaram diversos bancos internacionais, tendo-se concretizado um
acordo de parceria financeira com o Bank of America Merrill Lynch, o
segundo maior banco Americano e nono maior do mundo.
Parece
também haver uma profunda confusão entre o significado de nepotismo e o
significado de PEP, tornando-se a mesma cada vez mais comum no debate
público. Deveria caber à Comunicação Social informar e educar a opinião
publica sobre temas desta natureza de forma responsável, em vez de
incendiar polémicas infames que têm em si motivações políticas. Esse é o
papel desempenhado pelas redes sociais.
Assim, e para que o
público fique esclarecido, a palavra nepotismo significa a promoção de
uma pessoa incompetente para um determinado cargo pelo único facto de
ser membro da sua família. Como a minha competência não está em questão,
não será apropriado tentar estabelecer um vínculo entre as minhas
relações familiares e os resultados do meu mandato.
Além disso, o
conceito de PEP é usado no seu editorial de uma forma tendenciosa. Por
definição, todos os membros dos Conselhos de Administração das Empresas
Públicas, incluindo da Sonangol , são PEP’s, o que não afecta a sua
capacidade de gerir relações bancárias em nome das empresas que
representam.
2. A situação com que o CA que liderei se defrontou
em Junho de 2016 era de extrema gravidade e de ruptura financeira: (i) a
Sonangol não conseguia levantar financiamentos de médio/longo prazo nos
bancos internacionais há mais de 2 anos, (ii) não pagava aos
fornecedores de combustíveis (gasóleo e gasolina ) desde o início de
2015 , e tinha acumulado uma dívida de combustíveis de 1.6bi$ (um bilhão
e seiscentos milhões de dólares americanos) e (iii) estava em
incumprimento com os parceiros internacionais relativamente ao pagamento
dos cash calls nos campos petrolíferos.
iv) Pela primeira vez
na história da empresa, a Sonangol não tinha cumprido com os clausulas
dos contratos de financiamento a que estava obrigada aquando do fecho
das contas de 2015. Por este facto, podia ser exigido pelos bancos o
pagamento e reembolso imediato da totalidade das linhas de financiamento
da empresa.
v)Além deste avolumar de dívidas e da incapacidade de
se financiar na banca internacional , o desempenho operacional da
Sonangol colocava em grave risco a sustentabilidade da Empresa. Neste
quadro, o novo CA da Sonangol despoletou um Programa de Transformação
ambicioso, com medidas drásticas para proteger a Sonangol e assegurar a
sustentabilidade de longo prazo da Empresa. As medidas de reestruturação
implementadas a partir de meados de 2016 asseguraram a manutenção do
apoio da banca internacional, bem como dos parceiros operadores
petrolíferos, e fornecedores de combustíveis refinados, evitando
consequências que poderiam ter sido gravíssimas para a Sonangol e o
País.
3. A sua afirmação de que a Sonangol não teria recebido os
financiamentos necessários para o seu plano de desenvolvimento é
contraposta pelos factos a seguir apresentados:
a) Foi alcançado
com os bancos um acordo de restruturação de várias linhas de
financiamento bancárias de maturidade excessivamente curtas com prazos
de 1 a 3 anos , reduzindo substancialmente o serviço da dívida, e
permitindo alargar os prazos de maturidades da dívida bancária para 5 a 7
anos.
Com efeito, em Dezembro de 2015, a Sonangol tinha quase USD
14 mil milhões de dívida bancária com um serviço da dívida incomportável
, tendo de pagar a prestação de USD 3,6 mil milhões em 2016, e teria
ainda de pagar a prestação de 3,4 mil milhões em 2017, isto fruto da
Sonangol não ter conseguido refinanciar dívida há mais de 2 anos.
Após a reestruturação financeira feito pelo CA por mim liderado, a
dívida bancária reduziu para USD 7 mil milhões a Junho de 2017, e o
serviço da dívida desceu para 2,6 mil milhões em 2017, e prestação a
pagar será 1,4 mil milhões em 2018;
b) Em Janeiro de 2017 foi
concretizada a abertura de uma linha de financiamento de USD 500 milhões
com o Afreximbank, um banco com quem a Sonangol não tinha previamente
relações comerciais, e o Standard Chartered Bank;
c) Foram também
mantidas todas das relações comerciais normais com bancos estrangeiros,
com a abertura ou manutenção de contas em USD em vários bancos
internacionais, nomeadamente o Standard Chartered Bank e o já referido
Banck of America Merrill Lynch;
d)A 9 de Novembro de 2017,
reunimos com 23 bancos internacionais em Londres, e estava acordado e em
fase final de assinatura a estruturação de três novas linhas de
financiamento no total de USD 2.250 milhões, marcando assim o grande
regresso da Sonangol aos mercados financeiros internacionais, a ser
concretizadas até final de 2017. Estas linhas têm maturidades a 5 e 7
anos permitindo assim alargar o perfil de maturidade da dívida: (i)
Financiamento de USD 650M com Standard Chartered, Societé Generale,
Natixis e Intesa; (ii) Financiamento de USD 1.200M com ICBC, China
Minsheng e Standard Bank; (iii) Financiamento de USD 450M com Societé
Generale, Natixis e ICBC Standard. Estas linhas estavam em negociação
desde inícios de 2017, tendo o processo negocial e a crescente confiança
dos bancos internacionais na recuperação da Empresa permitido descidas
substanciais de taxa de juro e melhoria de maturidades.
4. No que
diz respeito ao seu comentário sobre os resultados do relatório do
sector dos petróleos, note-se que o grupo de trabalho por si mencionado
não teve mandatado nos termos em referência, fazer a avaliação da gestão
da Sonangol, mas sim tratou dos seguintes temas cinco específicos :
i) Simplificação de Processos de Gestão das Concessões Petrolíferas;
ii) Revisão do Decreto Legislativo Presidencial nº 2/16, de 3 de Junho,
sobre as Definições, Conceitos e aos Termos Contratuais e Fiscais;
iii) Regulamentação sobre os Princípios Gerais de Investimento para o Gás Natural;
iv) Análise dos Termos e Condições Contratuais aplicáveis a Actividade
de Pesquisa, no âmbito do Decreto Presidencial nº 211/15, de 2 de
Dezembro;
v) Abandono das Instalações Petrolíferas.
Este
relatório foi preparado pelo Ministério dos Petróleos, Ministério das
Finanças, e Sonangol, com a participação de seis empresas petrolíferas
internacionais nomeadamente : ENI, Statoil, Total, Chevron, British
Petroleum e Esso.
Por definição, este trabalho do relatório foi
feito fora da Sonangol, e por razões obvias de soberania e conflito de
interesses, não seria correcto serem seis petrolíferas internacionais a
fazer uma auditoria ou controle de gestão da Concessionária Nacional,
pelo que conforme já referi , o relatório não tratou da avaliação da
gestão da Sonangol como empresa , mas sim de temas referentes ao sector
petrolífero em Angola no seu todo.
Além disso, parece-nos
surpreendente e prematuro evocar as conclusões parciais de um documento
que ainda não foi tornado público, reforçando a convicção de que estamos
não perante a divulgação objectiva e imparcial de informação, por parte
da vossa publicação, mas antes de declarações especulativas.
5.
Quanto às alegadas relações precárias com as companhias petrolíferas
internacionais, estão disponíveis na Internet e poderá, assim, encontrar
muitos comentários públicos dos líderes dessas mesmas empresas que
afirmam que as reformas empreendidas pelo Conselho de Administração que
liderei foram necessárias, benéficas, e conduzidas com profissionalismo,
dentro de um espirito construtivo. Cito por exemplo o Sr. Patrick
Pouyanné, CEO da Total “A Sonangol está a fazer exactamente o que
fizemos na nossa empresa. Quando o preço do petróleo caiu, todos nós
enfrentamos dificuldades, pelo que foi dada prioridade à transformação e
ao equilíbrio das contas, o que é positivo. Agora que se estabeleceu
uma base mais sólida, pode-se pensar no futuro e voltar a
desenvolver-se.”
Cito ainda o Vice Presidente da Chevron Clay
Neff: “Vimos as mudanças que a Sonangol está a fazer como muito boas. Há
uma colaboração muito positiva entre a Sonangol e a Chevron, e os
outros membros da indústria petrolífera , no sentido de continuar a
melhorar o clima de investimentos em Angola….(em Outubro 2017)”
6. No que diz respeito à sua afirmação do agravamento da dívida,
salientamos que a dívida total da Sonangol incluindo dívida bancária,
cash calls em atraso aos operadores petrolíferos internacionais, e
saldos em atraso a fornecedores de combustíveis importados, aquando da
tomada de posse do CA que liderei, ascendia a quase USD 16 mil milhões,
valor que no final de 2017 deverá cair para menos de 8 mil milhões.
Não apenas se conseguiu reestruturar e alargar maturidades da dívida
bancária e preparar o regresso às emissões de dívida internacional, como
foram pagos a totalidade de cash call em 2016, e como ainda se
assegurou um acordo de regularização de saldos em atraso com os
operadores petrolíferos internacionais, e fornecedores de combustíveis
importados (em ambos os casos os saldos em atraso antecediam a Janeiro
de 2015), evitando consequências graves para a Sonangol e o País.
Em particular, no caso de cash calls dos blocos petrolíferos, referente
aos anos 2016 e 2017, com a concretização das linhas de financiamento
em conclusão, a Sonangol efectuara um investimento de USD 5,2 mil
milhões em cash calls de forma a assegurar a estabilidade, continuidade,
e volume da produção petrolífera.
É certo que durante este
período de emergência, e perante a situação excepcional em que a empresa
se encontrava, tinha já sido acordado em Dezembro de 2015 uma injecção
de fundos do Accionista, que foram aportados entre 2015 e 2017. Com a
normalização da relação da Sonangol com os bancos internacionais e
conclusão das linhas de financiamento em curso, estarão reunidas as
condições para começar o reembolso destes fundos do Accionista.
7. No que diz respeito à lentidão burocrática, alegadamente denunciada
pelas empresas petrolíferas, note-se que os processos burocráticos com
as companhias petrolíferas são os mesmos há décadas e, portanto, não são
específicas deste conselho de administração. A única alteração a
registar foi a existência de uma maior exigência e rigor na validação
dos custos propostos pelas companhias de petróleo para operar nos
blocos.
Na equipa de gestão que liderei o foco foi colocado na
redução dos custos operacionais e, por isso, verificou-se um maior
detalhe na avaliação dos valores apresentados pelos parceiros. Como
resultado desse esforço, o custo de operação em Angola diminuiu de US $
14 para US $ 7 por barril em 17 meses, permitindo que grande parte da
exploração de petróleo do país se tornasse economicamente viável e
financeiramente sustentável pelos bancos internacionais. Angola é,
assim, hoje um país mais atraente para investidores no sector
petrolífero, pois um custo de produção baixo , significa maior retornos e
rentabilidade.
8. Em conclusão, o trabalho desenvolvido permitiu
ultrapassar uma situação de emergência e lançar um Programa de
Transformação ambicioso, com medidas drásticas para proteger a Sonangol e
assegurar a sustentabilidade de longo prazo da Empresa.
Ultrapassada a situação de emergência financeira, o CA estava já a
construir o futuro da Sonangol, encontrando-se a desenvolver o plano de
negócios para a nova refinaria e a trabalhar no Plano Director do gás
que iria apresentar ao executivo no 1º trimestre de 2018.
Adicionalmente, como a reestruturação do sector não se faz unicamente
dentro da Sonangol, o CA preparou e apresentou ainda um plano com
medidas estruturais tendo em vista a melhoria da competitividade do
sector de O&G em Angola.
No interesse da transparência e informação pública , agradeço publicar na integridade este direito de resposta.
Cordialmente,
Isabel dos Santos
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