Legado de Jonas Savimbi- Sousa Jamba


O meu falecido irmão, Jaka Jamba, me disse algo em 1984 na Jamba algo  que muito me marcou. Ele me disse que o “Velho” como se chamava o Dr Jonas Savimbi, tinha muitas falhas mas também uma rárá qualidade; ele reconhecia os quadros que tinham capacidade. Estávamos a falar relacionamento, às vezes complicado,  que ele tinha com figuras como o General Eugênio Manuvakola e Sachipengo Nunda. Os dois tinham a reputação de serem frontais e dizerem o que pensavam sem rodeios, algo que não caia muito bem em certos círculos da liderança de então; em todo caso, os dois também tinham uma imensa capacidade de implementar os programas que lhes tinham sido incumbidos. 


Estávamos numa guerra com equipamentos mais avançados contra nós; havia várias frentes de combate — havia parentes, amigos, e próximos que iam e nunca regressavam. Certamente que do outro lado vivia-se o mesmo desassossego que vinha do mesmo sentimento de incerteza. Neste contexto, os homens certos tinham que estar nos lugares certos; os quadros tinham que estar nos lugares certos. O Dr Jonas Savimbi não pode ser acusado de ter sido nepotista; os seus sobrinhos iam para a frente de combate onde perderam a vida como os outros. Ninguém põem em causa a competência do General Ben Ben ou do Enginheiro Elias Salupeto Pena. 



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O Dr Jonas Savimbi, que a verdade seja dita,  foi muito bom em criar uma estrutura, altamente complexa, que sobreviveu a muitos assaltos. Lembro-me de um General Sul Africano a gabar-se que foi ele que criou Jonas Savimbi; que tudo Savimbi sabia foi ele que lhe ensinou. Isto foi logo depois da morte do Dr Savimbi, numa altura em que todos falam do fim da UNITA. Na altura eu disse  que a UNITA não iria desfazer-se porque, ao contrário de muitas organizações políticas Africanas, não era completamente centralizada numa figura; na altura isto muito difícil para as pessoas acreditar porque Jonas Savimbi, para uns, figurava na planilha dos vilões da História. O General Sul Africano cometeu o erro de muita gente que pensava que a UNITA não ia além do Doutor Savimbi. 


Vinte nos atrás, escrevi um ensaio sobre o De Savimbi onde eu falava das suas contradições. Antes da sua morte, o Dr Savimbi falou dos passivos da UNITA, que no passado fizeram que alguns de nós o criticassem abertamente. A UNITA nunca foi um movimento de seguidores que nunca pensam; sempre houve várias opiniões sobre a razão da existência da guerra. Desde a sua formação houve, na UNITA, sempre uma liderança coletiva; a cultura organizacional de uma instituição é determinada no seu início. A UNITA sempre dependeu de muitas figuras e grupos sociais para a sua sobrevivência; isto criou a cultura de uma descentralização significante. O jornalista Afro-Americano, Malik Chaka, que visitou as bases da UNITA no leste de Angola no tempo da guerra anticolonial, disse-me uma vez que o que ele achou altamente impressionante na altura foi a liderança colegial do movimento. 


Em 1974, quando os movimentos vieram para as cidades, a UNITA sofreu uma transformação radical; o movimento marcadamente rural passou a ter uma infusão repentinamente urbanos. Claro que houve contradições; os antigos comandantes sentiram-se ultrapassados pelos jovens que tinham estado no exército Português (em certos casos) e outros que foram formados em várias academias militares do mundo: Zâmbia, Tanzânia, Marrocos, Alemanha etc. Membros dos serviços de inteligência militar da UNITA passaram a ter formação no Reino Unido e França; a UNITA de repente fica envolvida na Guerra Fria. 


Mas antes disto a UNITA teve que passar por uma fase muito difícil. Fala-se pouco da Longa Marcha estes dias. Por todas as suas falhas, os mais velhos na UNITA que estiveram na Longa Marcha são unânimes que se não fosse a liderança do Doutor Jonas Savimbi o movimento iria acabar; helicópteros pilotados por Cubanos e Russos, aviões, militares vindos de várias partes do mundo estavam numa imensa campanha de aniquilar a UNITA uma vez para sempre. A marcha, em 1976,  foi do Moxico para as áreas do Cuando Cubango. Houve momentos em que o MPLA estava completamente convencido que a UNITA tinha acabado. Aqui na Zâmbia, onde nós éramos refugiados, o então embaixador de Angola, André Miranda, declarou publicamente que a UNITA estava reduzida á  uns peixinhos numa valeta  cuja água estava a desaparecer. Não é isto o que estava a acontecer. Na longa marcha, o Dr Jonas Malheiro Savimbi provou que não era um guerrilheiro qualquer; ele tinha estado cerca de nove anos nas matas a liderar os guerrilheiros da UNITA; mas a Longa Marcha foi já uma questão de ter que liderar milhares de pessoas. Ninguém pode acusar o Dr Savimbi de não ter tido proeza física; nenhum líder Angolano andou a pé por tantos cantos de Angola como o Dr Jonas Malheiro Savimbi. 


Entretanto, várias componentes do movimento foram crescendo. O Doutor Savimbi tinha uma rede de diplomatas (Alcides Sakala, Jeremias Chitunda, Tito Chingunji, Marcos Samondo, Jardo Muekalia, Tiago Kandanda, Cyprian Chipipa, Honório Van Dunem, Ernesto Mulato, John Marques Kakunda  e muitos outros)  que em várias partes do mundo foram partilhando a mensagem da UNITA. Não era nada fácil porque na altura a ligação que a UNITA tinha com a África do Sul tinha manchado consideravelmente a sua reputação; mesmo assim o movimento conseguiu conquistar muitas simpatias. Um pouco mais tarde, jovens diplomatas como o Adalberto Costa Júnior na Europa entraram em ação. A cultura de sempre velar pelo o ensino e formação pára se ter quadros de qualidade sempre promovida pelo o Doutor Savimbi; há milhares de jovens em Angola que fizeram os seus estudos nas matas e que eventualmente foram para as melhores universidades do mundo. A igreja Católica, através de um bom número de padres que sempre estiveram nas matas, foi muito chave neste sector. 


Claro que o Doutor Savimbi teve o seu lado em permitiu que a tendência totalitária da luta predominasse; negar isto seria intelectualmente desonesto.  A ANC na África do Sul e a SWAPO na Namíbia  continuam até hoje a lidar com os excessos que mancharam a história da sua resistência. Na guerrilha, como em qualquer insurreição, surge sempre momentos de intensa desconfiança; há capítulos complicados da História da UNITA que vão sendo esclarecidos. Há passivos da UNITA que poderiam ser evitados; o próprio Dr Savimbi falou disto ainda em vida. 


O Dr Jonas Savimbi estava sempre consciente do poderio da retórica; de como os homens não viviam apenas do pão. Lembro-me que quando tinha onze anos aqui na Zâmbia apareceu uma cassete com uma gravação do Dr Savimbi a dizer que a luta tinha começado e que os jovens deveriam regressar para as matas. Vi jovens a regressar para o sul de Angola por causa daquela mensagem. Existem muitas gravações de Jonas Malheiro Savimbi; os seus discursos são partilhados na Titok, Whatsapp etc.. Há artistas de música rap que falam do Marechal. Jonas Malheiro Savimbi, morto há duas décadas, é um ícone para muitos Angolanos. 


Vinte anos atrás, li um posting que falava do famoso bunker de Jonas Savimbi no Andulo. Muitos só passavam na vila querendo ver este tal bunker. Um administrador desfez o bunker para acabar com a memória de Savimbi. Vimos o entusiasmo com que o Andulo recebeu o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior; lá estava um líder Democraticamente eleito por uma instituição que o Dr Savimbi foi chave em moldar! Este sim, é um dos seus legados..




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